sábado, 17 de agosto de 2024
Em cena com Sorrah
Esse dia foi um dos piores da minha vida. Gravemente devastada pela decepção com alguém em quem confiava plenamente e cultivava um amor profundo, fui gravar, sem chão. Sentia dor física, tamanha tristeza emocional. A cena era com a gênia Renata Sorrah e parecia não haver espaço em mim para comemorar. No camarim quase não consegui interagir visto meu estado. Prendia a dor dentro de um disfarce, afinal estava trabalhando.
Entrando em cena com ela, um outro estado de presença foi me preenchendo sutilmente. O diretor veio nos ensaiar e assim que acabamos a primeira passada de texto, ela virou para mim e disse: Não! E me imitou ressaltando um detalhe na minha interpretação que denunciava que eu não estava VIVENDO a cena com ela. Captei instantaneamente seu apontamento. Posso? Ela disse pretendendo continuar. O diretor tentou interrompê-la. Eu só fiz um sinal de Stop! pra ele com minhas mãos. Tipo: cara, não! A Renata Sorrah quer me dirigir. Desculpa, mas qualquer atriz daria a vida por esse momento rs. E ela começou a ensaiar comigo de novo, buscando o fundo do meu olho, me procurando lá dentro. Até que cavou minha entrega. Nesse momento, algo mudou. Eu não era mais a atriz com o peito rasgado. Eu tinha um texto, um contexto, uma psicologia, um corpo, uma relação estabelecida, tudo diferente de mim. Meditativamente dentro do presente, numa realidade paralela, imbuídas apenas do objetivo de ir fundo nessa fantasia, mergulhadas nas sensações contidas na cena, estávamos nós. Passamos a respirar juntas. Nos intervalos conversávamos com uma curiosidade rapidamente estabelecida pela intimidade que a cena trouxe, mas num estado singular de concentração. E a cada novo gravando! Novos neurotransmissores de prazer me permitiam fugir e ir mais fundo no jogo. Quando acabou, demos um abraço triplo: eu, ela e o diretor. Rolou.
Renata Sorrah é uma grande atriz porque, para ela, o que vale é estar ali pra esquecer o próprio nome, pra elevar a obra e não seu ego, pra entrar no presente e brincar de outra realidade com o outro. Agradeço a Renata por me resgatar o prazer de estar viva, em cena em sua companhia! Evoé!
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